GUAXUPÉ - A CATIVA CENTENÁRIA
Entre as montanhas cafeeiras, existe um lugar que brilha,
marcado pela sua história e pelo seu povo que ainda se recorda da infância,
embalada pelo apito do trem, que, bem de mansinho, chegava à estação da
mogiana. Eram encontros e despedidas; esperanças que chegavam e desejos que
partiam em busca de um sucesso impossível de se conquistar por aqui, devido à
ausência de progresso. Com o passar dos anos, o trem foi embora de vez, a
ferrovia se dissipou, ficando apenas na memória popular. Surgiu, então, um tipo
de desenvolvimento, mesmo que tímido, através dos homens do café - os grandes e
verdadeiros produtores de riquezas.
Ao longo
destes cem anos de existência, Guaxupé cresceu frondosamente, como as torres de
sua majestosa catedral. E essa imponência foi mostrada ao Brasil e ao mundo, na
medida em que o café que se produzia aqui passou a ser considerado o melhor do
planeta. Mas não foi somente o café! Junto com o doce aroma dos cafezais existe
um povo acolhedor. Aqui se agregam
famílias, amigos, onde se reinventa o amor, colocando-se em destaque essa tão
mineira e fraterna hospitalidade. Percebemos, com isso, a acentuada
miscigenação. Impossível falar de Guaxupé sem nos lembrar dos seus imigrantes
sírios, italianos, americanos, portugueses, paulistas, nordestinos e, hoje, até
chineses. Sem sombra de dúvida, nossa terra é um local onde se aglutinam
culturas e essa talvez seja a sua maior riqueza... Guaxupé, tão sedutora, cativa
seus filhos, sejam eles natos, naturalizados ou adotivos. Prova disso é que os
seus filhos a deixam e voltam com esperanças mais que renovadas, sabendo que
aqui se pode refugiar em família.
Da minha
janela, ao anoitecer, molduro a linda paisagem da cidade. Os meus pensamentos
vagueiam no tempo. Talvez aquele apito do trem tenha ficado esquecido
juntamente com a partida da última locomotiva; talvez muita coisa tenha se
apagado da memória de nosso povo, porquanto já não há mais a linha do trem e,
muito menos, os tropeiros no antigo Hotel Cobra. Mas, graças a Deus, o que
permaneceu mesmo foi o aroma do café, da terra molhada e da lavoura que nos
alimenta. Cem anos?... Estamos tão amadurecidos! Não vivi tanto tempo assim, mas já doei pequena
porcentagem de colaboração até aqui. Seria pretensão declarar que escrevi um
capítulo da história de nosso município, mas algumas páginas, ao menos, já foram
escritas por mim, através de minha vida. Percebo que o futuro chegou, trazendo
na bagagem experiências e desenvolvimento, objetivando fazer parte integrante
do município. Olho à minha volta e noto que já desfiz as minhas próprias malas
e também faço parte integrante dessa terra. No entanto, é preciso prosseguir, ainda
há muito a ser conquistado, porém mais cem anos é tempo demais. Percorrerei
apenas o tempo suficiente para que a vida ainda me traga bons frutos. Dessa vez
não vou de trem, mas vou impulsionado pelo meu amor e minha fé no Criador.
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