ENSAIO SOBRE A FÉ
Por Dr. João Marcos Alencar Barros Costa
Monteiro
A
realidade é seca, como a terra sem chuva. Já o sonho, doce como a esperança. É por isso que não posso despertar sem fé. É preciso
caminhar a longa estrada, acreditando no futuro, porém vivendo cada passo
presente, retirando desse caminho as pedras e espinhos que a vida me apresenta.
Vou
seguindo em frente... Caminhar é a razão do meu viver. Não posso mais olhar para traz. Caso contrário,
ficaria estagnado; tornar-me-ia uma “estátua de sal”. É preciso prosseguir!
Nesta
estrada, vejo tantas pessoas chorando. São as dores de um mundo que grita por
socorro, já sem esperança; perderam a fé, pois não acreditam mais no invisível.
Esquecem-se do vento e de como o seu frescor alivia do calor da realidade, que
seca a terra sem fertilidade. O coração do homem está estéril. Oh, meu Deus, até
quando caminharei presenciando tanto sofrimento, tantas injustiças e tanto ódio
nos corações humanos?
Há
um mundo ao meu redor sem amor, egoísta, esvaindo-se em sangue de inocentes.
Crianças são tratadas como adultos e vitimadas pela violência; as suas infâncias
ceifadas pelo desamor nas esquinas de meu país; os homens, detentores do poder,
já não olham mais para o povo, querem apenas dominar, alimentando os seus próprios
interesses. Quanta corrupção!
A
caminhada está tão longa e difícil! Preciso descansar à sombra de uma árvore e
me refrescar em águas límpidas e tranquilas do riacho, que um dia passou tão
perto de mim. É triste, mas essa sombra já não existe e nem o pequeno
riozinho. Os homens do progresso
cortaram a minha árvore e contaminaram a nossa água. A natureza está morrendo,
porém a minha esperança ainda permanece firme. É preciso mesmo continuar... Resta-me
o vento, que sopra em meu rosto. Olho
para o céu e sinto O seu sorriso. Não posso enxergá-Lo, meu Deus, mas aprendi
com esse vento. Não O vejo, mas sinto o Seu frescor. É por isso que possuo a
coragem de continuar, movido pelo vento, por essa fé que me faz segurar em Suas
mãos e percorrer a tão longa estrada da vida, pois ainda sei que quando
tropeçar ali mais a frente, eu terei os Seus braços para me levantar e me
acolher.
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