sexta-feira, 4 de maio de 2012

A DITADURA DA COPA



           O Brasil tem vivido um momento de êxtase em sua economia, fazendo com que a nação acredite que o país será uma grande potência mundial. Realmente, não há como negar que vencemos uma das piores crises mundiais, que a inflação está controlada, que a população mais pobre tem conquistado espaços antes impossíveis de se conquistar e que, consideravelmente, elevou-se o poder aquisitivo do brasileiro. Apesar dessa euforia, devemos ficar alerta e não nos tornarmos cegos diante de tantas mazelas que estão ocorrendo em nossa pátria. O país, apesar do crescimento econômico e tecnológico, ainda é visto como a nação do futebol, do samba e carnaval e, o que é pior, da corrupção. E isso porque o povo continua sendo adestrado a ser passivo diante das situações, a olhar com olhos que são devorados pelo consumismo, pelo ufanismo momentâneo, que faz com que seres humanos se transformem em robóticos, guiados pela mídia e por uma ditadura camuflada.
            Em 2014, o Brasil será sede do maior campeonato de futebol do mundo – a Copa.  Porém, não se sabe até que ponto tal evento será bom para o país ou quais as consequências pós-copa do mundo.  Devemos é abrir os olhos e enxergar que as diretrizes para que o evento se realize no país não estão sendo satisfatórias à nação brasileira.  E isso porque, ao se analisar a Lei Geral da Copa (Projeto de Lei 2.330/2011), percebe-se várias aberrações jurídicas que ameaçam a soberania nacional. Em primeiro lugar, o projeto de lei, que está sendo negociado no Congresso Nacional, volta-se totalmente para a proteção da FIFA (Federação Internacional de Futebol Amador) e seus patrocinadores, além de tornar temporariamente inócuo o Código de Proteção e Defesa do Consumidor.  Não há dúvida de que há uma inversão da construção jurídica do Direito do Consumidor na medida em que passa a proteger a marca FIFA em detrimento do usuário. Além disso, os critérios para a concessão de visto de entrada de qualquer cidadão no país passará por modificações, já que se pretende colocar a FIFA como autoridade que irá administrar a entrada e permanência de estrangeiros em território nacional. Em segundo lugar, querem criar, no período da copa, novos tipos penais absolutamente abertos que permitirão, por exemplo, enquadrar como crime de terrorismo uma briga de torcidas, com pena de reclusão de 15 a 30 anos, que pode ser aumentada em 1/3, se houver vítima integrante da FIFA. Por outro lado, totalmente em contrassenso a essa imputação, querem permitir a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, tornando sem efeito o Estatuto do Torcedor, e isso pelo fato de uma fabricante de cerveja ser um dos principais patrocinadores do evento. Se tais exigências forem realmente aprovadas, o Brasil estará colocando a sua soberania refém da FIFA, em total prejuízo do próprio povo brasileiro, que é o verdadeiro contribuinte da receita tributária, convertida em vultosos gastos na construção de verdadeiros “elefantes brancos”. Como disse o jornalista Juca Kfouri, em audiência pública realizada na OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Estado de São Paulo), em 30/03/2012: “estamos gastando bilhões em estádios que não terão utilidade depois do mundial de futebol, e cedendo parte de nossa soberania para atender aos interesses da FIFA”.
            Sem sombra de dúvida, o Direito Brasileiro às vésperas e durante o mundial da Copa do Mundo de 2014 será totalmente aviltado, já que a Lei Geral da Copa está na contramão do Direito Penal moderno, que tem a prisão como “ultima ratio” e do Direito do Consumidor, que é uma garantia constitucional, que não pode ser violada, já que se encontra no artigo 5º, inciso XXXII, da Carta Magna, possuindo status de cláusula pétrea.  O que se espera, no entanto, é que haja realmente alguma alteração na Lei Geral da Copa, para que amenizem os absurdos aprovados na Câmara dos Deputados, caso contrário quem vai perder, mesmo que a seleção brasileira seja a campeã em seu quintal, será a população brasileira.
            É triste, mas o mesmo povo que tem amor ao futebol, não parece ter amor à própria pátria, pois a brasilidade se corrompeu ao longo dos anos, já que os direitos foram esquecidos ou desconhecidos na porta dos Estádios de Futebol; a cultura nem se fala, porquanto é jogada no lixo, através do voto inútil, quando se elegem mandatários corruptos atentos apenas aos interesses privados. Estão ferindo o princípio da isonomia, desrespeitando os nossos direitos e garantias individuais, bem como a democracia. Em tempos de Copa do Mundo no Brasil, parece que querem rasgar a Constituição Federal, instaurando-se uma verdadeira ditadura do futebol.  

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