quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

"VIDA, LOUCA VIDA"!


(*) Dr. João Marcos Alencar Barros Costa Monteiro

Fiquei algum tempo sem escrever e nesse período, apesar de muito atribulado com os meus estudos e serviços jurídicos, estive refletindo sobre algumas coisas. Estamos chegando a mais um final de ano. Isso nos faz sinalizar para o fato de que o tempo está passando muito depressa. Às portas de 2009, percebi que as pessoas vivem na maior correria, mas nem elas sabem o porquê de tanta pressa, num cotidiano tão frenético. Dizem aqueles que tem justificativa para tudo, que isso é o resultado da modernidade, da Era da Globalização, onde os computadores passaram a substituir os relacionamentos humanos. Tais pessoas não deixam de ter razão, mas essa realidade é muito triste, pois percebemos que as pessoas não se vêem mais como antes, não se abraçam como antes, não são mais visitadas como antes e, sem sombra de dúvida, acham até banal um ente querido morrer em situação trágica. Desculpem a sinceridade, mas penso que o valor da vida humana deixou de ter importância dentro de uma sociedade inteiramente consumista, onde o ter tornou-se muito mais primordial na vida do que o ser. Mas um fato eu estive observando: as pessoas estão mais deprimidas, doentes, cancerígenas e isso, talvez, porque estão tão exacerbadas de tarefas, com o intuito de adquirir, adquirir... na esperança de se enriquecerem de bens materiais, que acabaram se esquecendo da verdadeira riqueza – a dos valores e virtudes, que deveriam mover o mundo. Deixamos de sorrir; deixamos de abraçar aquele nosso vizinho, que muitas das vezes está necessitando de uma palavra amiga e de conforto; deixamos de conversar com aquele que está bem próximo de nós e, o que é pior, deixamos a vida passar, como um trem... e foi-se o nosso vagão! O vagão de uma história que poderíamos ter reconstruído com muito amor.

Percebi, ainda, que a grande maioria das pessoas se mostram, sim, em total desamor, quando torcem para algo, que não lhes agrada, dar errado, nem que para isso uma cidade inteira seja prejudicada e sofra as conseqüências. Estão sempre doidas para ver o “circo pegar fogo”. Que mundo é esse? Quem são os atores dessa vida, que pecam no palco da existência? Ora, são os homens que perderam antigos valores e, principalmente, o amor ao próximo, preocupando-se muito mais com os seus escusos e egocêntricos interesses, ou seja, com o próprio umbigo. Por isso vemos o resultado dessa catástrofe. A incidência de violência aumentou vertiginosamente e a violação dos direitos fez com que os tribunais ficassem praticamente entupidos de processos judiciais. Lamentavelmente, os códigos e as leis, que estabelecem limites de direitos e deveres aos cidadãos em uma sociedade como a nossa, são insuficientes para controlá-los, sendo necessária a presença da polícia e das prisões para reintegrar um ser humano infrator ao convívio social.

É preocupante, mas nem as punições, previstas em lei, estão limitando os homens de cometerem atrocidades, de infringirem as regras sociais; isso porque deixaram de ser humanos, para se tornarem frios e irracionais, na medida em que passaram a ser rotulados... É engraçado, mas os homens são o que possuem. Muitas das vezes, nós, seres humanos, esquecemos que somos mais que um título acadêmico, que uma profissão, que um status social, que uma conta bancária recheada de reais e acabamos sendo vítimas desses rótulos que a própria sociedade nos coloca. Se o rótulo se apaga, por um eventual fracasso, o homem está sujeito à depressão e, dependendo, é capaz até de cometer infrações para reconquistar aquele título que perdeu, porque mede a sua importância por aquilo que pensa ter algum valor. Por isso, talvez, muitos idosos, ao final de uma jornada de vida, quando deixam de trabalhar, caem no esquecimento, no casulo da solidão, pois se esqueceram de que são seres humanos e não um rótulo ambulante. Mas, graças a Deus, a grande maioria, redescobre os prazeres da vida, tais como a tranqüilidade, a amizade, o diálogo, a contemplação do belo, porque percebe que deve ser classificada por aquilo que é e não por aquilo que possui. Ora, jamais um idoso ou qualquer ser humano deve se sentir diminuído, inferiorizado, incapacitado, evitando-se, assim, a perda da motivação de viver. Redescobrir a vida, de forma saudável, não deixa de ser uma grande virtude num mundo em que os valores estão totalmente invertidos.


* O autor é advogado.

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